sábado, 22 de novembro de 2008

Cotas passam pela Câmara

Vejo com muita tristeza o projeto de cotas ter passado pela Câmara. Agora depende do Senado. Pessoalmente ainda tenho alguma esperança que o Senado reprove tal projeto.
O interessante é a forma que ele está encaminhado. As cotas raciais estão no mesmo pacote que as cotas para as escolas públicas que tem um maior apelo popular. Vi reportagens que falavam das cotas como algo único. Agora respondam, porque a "necessidade" de cotas étnicas se as sociais já atenderiam os desfavorecidos por um ensino de baixa qualidade? Isso ninguém explica, por que um branco da escola pública deve ser diferenciado de um negro? Esse tipo de ação leva ao risco de se criar ressentimentos entre os que tiveram o "azar" de além de nascer pobres, terem a pele alva. E sem esse papo de 500 anos de exploração. Quem é branco hoje, além de poder também ser descendente de ex-escravos, não açoitou ninguém. Chega de hipocrisia.
Como os seres humanos não tem um longo horizonte de vida terrena, querem seu problema resolvido imediatamente. Se tiveram uma escola de má qualidade as cotas são uma esperança para se conseguir o diploma em uma universidade renomada. Aliás, sejamos justos, diferentemente de décadas atrás ter um canudo hoje ficou muito fácil. As instituições privadas estão a caça de alunos.
Muitos se questionam sobre a qualidade de nossos formandos. E posso afirmar, não adianta achar que a universidade irá corrigir todas as falhas de formação de pessoas que não tiveram acesso à boas escolas. e boa escola é aquela que faz o máximo para ensinar, cria um bom ambiente intectual em que o estudo é valorizado, e REPROVA se for necessário. Meritocracia pura e simples.
Penso que mesmo as cotas sociais não sejam uma boa solução. Cotas raciais sou radicalmente contra, pois não devemos avaliar as pessoas pela quantidade de melanina na pele, e sinceramente vejo isso como um grande retrocesso, algo que eu considerava inimaginável em um país como o nosso, um país em que um irmão é pardo e o outro é branco, mas que uma lei poderá considerá-los distintos.
Sobre as sociais, elas tem sido eficientes em se apequenar a discussão sobre implementação de ações que mostrem claramente e em indicadores internacionais, isso é em relação a outros paises, a melhora de nosso nível educacional. Não resolvermos de vez os problemas em nossas escolas e perder tempo em um debate pobre sobre a cor das pessoas, demonstra um traço de nossa personalidade. O importante é o canudo e não o que de fato ele teria que representar. E o que me importa é se o meu segmento social é atendido. O resto é o resto.

3 comentários:

Anônimo disse...

É unânime o entendimento de que a qualidade da universidade pública se dá pela qualidade de seu corpo discente atribuído ao processo seletivo. Com as cotas, analfabetos funcionais serão maioria nas universidades públicas que, em pouco tempo, ocuparão a rabeira do ranking de qualidade de ensino. É pra isso que servem as cotas. E a educação fundamental continuará a mesma porcaria de sempre.

Ana Terra disse...

Pra rematricular meu filho na escola, recebi um questionário em que, pelas leis da Secretaria de Estado, devo declarar se meu filho é branco, pardo, amarelo, negro ou sei-lá-mais-o-quê. Marquei todas as opções. Meu filho é brasileiro.

Anônimo disse...

Quinta-feira, Novembro 27, 2008
Carta aberta ao Grande Chefe Branco-Demétrio Magnoli O Estado de S. Paulo
O ESTADO DE S PAULO
Prezado deputado Paulo Renato Souza (PSDB-SP):

No 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a Câmara passou a lei de cotas nas universidades e instituições federais de ensino médio, que é a primeira lei racial na história da República. A aprovação se deu sem o voto dos deputados, por conluio entre lideranças. Você participou destacadamente daquele conluio, renunciando à posição contrária à inclusão da raça na lei que dizia sustentar.

Arlindo Chinaglia (PT-SP), o presidente da Câmara, celebrou o desenlace e ofereceu um diagnóstico: "Os que têm opiniões divergentes cederam, o que resultou em um grande avanço." Traduzo a frase do seguinte modo: nada é impossível, nem mesmo derrubar o princípio da igualdade perante a lei, quando a oposição abdica de seus deveres básicos. Estou errado?

Serei franco. Surpreendeu-me a sua colaboração, sem a qual o projeto teria de aguardar uma sessão com quórum e ser votado nominalmente pelos deputados. Li num jornal a sua justificativa. De acordo com ela, o projeto não é ruim, pois estabelece cotas raciais proporcionais à composição "racial" da população de cada unidade federativa, de modo que, nas suas palavras, nos Estados com predomínio demográfico de brancos, eles terão chances maiores de ingressar nas universidades. Se entendi, você negociou e aprovou o projeto pois não viu nele desvantagens para a "raça branca". Posso, então, intitulá-lo Grande Chefe Branco?

Não há ironia nisso, acredite. Os patrocinadores de projetos de cotas no ensino e no mercado de trabalho almejam a condição de líderes negros. Eles usam o fruto envenenado da raça para impulsionar carreiras políticas ou conquistar posições de prestígio em ONGs muito bem financiadas. Mas é claro que a construção de identidades raciais oficiais no Brasil abre possibilidades inusitadas. Se há líderes negros, por que não líderes brancos? (Veja que para isso nem se precisa de algo tão aparente quanto a cor da pele: em Ruanda a vida política girava em torno de líderes tutsis e líderes hutus, ao menos até o genocídio).

Não nos enganemos. Políticos oportunistas em busca da condição de líderes negros (ou brancos) são elos instrumentais na passagem de leis de raça, mas a concepção de tais leis se deve aos doutrinários racialistas, que são pessoas dotadas de princípios - e o xis do problema reside no conteúdo desses princípios. Racialismo é a doutrina baseada numa dupla crença: 1) raças existem, se não na natureza, ao menos na história; 2) "a história do mundo não é a história de indivíduos, mas de grupos, não a de nações, mas a de raças". Empreguei, para expor a segunda crença racialista, uma citação de William Du Bois (1868-1963), o pai fundador da doutrina. Toda a lógica das políticas de cotas raciais se encontra delineada na obra desse americano. Seria inoportuno sugerir que a lesse?

Du Bois era um racialista, não um racista, pois não acreditava em noções de superioridade racial. Ele visitou a Alemanha nazista e gostou do orgulho de raça promovido pelo regime, mas confessou sua repulsa com a perseguição aos judeus. Bem antes, em 1903, escreveu Os talentosos dez por cento, em que expunha a tese de que, por meio de uma criteriosa seleção educacional, um negro em cada dez poderia converter-se em líder mundial da raça negra. O artigo começa assim: "A raça negra, como todas as raças, será salva por seus homens excepcionais. O problema da educação entre negros, então, deve antes de tudo concentrar-se nos 10% talentosos..." Entendeu, agora, a proposta de cotas? Percebeu que ela nada tem que ver com um programa de redução de desigualdades sociais?

Nos EUA, as leis de segregação racial definiram quem era branco e quem era negro. Du Bois falava para uma raça oficializada pela discriminação. Por aqui, os racialistas lamentam a ausência de leis desse tipo no nosso passado, pois recaiu sobre os ombros deles a missão de fabricar, na mente das pessoas, a consciência racial e o orgulho de raça. Fico um tanto triste ao perceber que se procura realizar essa obra a partir da escola. Tarso Genro, na sua passagem pelo Ministério da Educação, ordenou que todas as escolas associem nominalmente cada aluno a uma raça. Você, um ex-ministro da Educação, e Paulo Haddad, o atual titular da pasta, articularam juntos o projeto de cotas raciais aprovado na Câmara. Vocês não são três, mas uma tríade. Juntos, por cima de diferenças partidárias, invadem as aulas de História e Biologia para apagar a lousa onde está escrito que raças humanas não existem, a não ser como invenção do racismo. Mas você liga para o que está escrito na lousa?

Já notou que os brasileiros sentem uma certa repugnância diante da idéia de serem divididos oficialmente em raças? Por coincidência, no mesmo dia em que vocês aprovavam uma lei que faz exatamente isso, divulgou-se uma pesquisa de opinião pública sobre atitudes diante do tema racial. Encomendada pelo Cidan, uma ONG racialista, a pesquisa fez perguntas viciadas, tendenciosas, a uma amostra da população carioca. Mesmo assim, 63% declaram-se contra as cotas raciais. Mais interessante é que as posturas diante das cotas raciais não variam em função da cor autodeclarada das pessoas. Entre os "brancos", 63,7% rejeitam essa política; entre os "pardos", 64%; entre os "pretos", 62,2%. Eu interpreto isso como uma opção identitária: as pessoas, independentemente da cor da pele, querem ser cidadãos iguais perante a lei. Estou errado?

Não há motivo para imaginar que os demais brasileiros pensem diferente dos cariocas. Apesar da maciça propaganda racialista veiculada pelo Estado, os cidadãos percebem o mal que a pedagogia das raças faz aos jovens estudantes. A coincidência entre a divulgação da pesquisa e a aprovação por conchavo da lei de cotas coloca uma pergunta constrangedora: onde está a representação parlamentar da maioria que rejeita as leis raciais?


Paulo Renato, o Grande Chefe Branco e os intelectuais que não entendem a democracia...
por Reinaldo Azevedo
Postado por ARTIGOS às 8:48 AM
Marcadores: O ESTADO DE S PAULO

http://arquivoetc.blogspot.com/2008/11/carta-aberta-ao-grande-chefe-branco.html