quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Livro Proibido

Na minha graduação em Economia, existiam diversos tabus. Entre alguns docentes e colegas que professavam da mesma fé, eram inquestionáveis os dogmas de alguns autores clássicos, sobretudo, Karl Marx e John Maynard Keynes. Outros autores nacionais também eram inquestionáveis, não vou mencionar nomes, mas são os textos dos economistas "desenvolvimentistas".
Quanto a Marx, estudei em diversos momentos da graduação, um semestre em especial, em que tive uma disciplina em que foi praticamente inteira dedicada ao pensador alemão. O deslumbre de diversos colegas era tal que eu, quando estava com O Capital em minhas mãos, em tom sarcástico dizia que naquele livro encontraríamos resposta para tudo, de unha encravada a salvação da humanidade.
Como mencionei, li vastamente autores brasileiros, todos estruturalistas, não critico o fato de os ter lido, tenho certeza que se não concordei foi válido para reforçar minha visão de mundo ou para rever algum conceito equivocado. Entretanto, existiam vários tabus no meio acadêmico entre eles eram os livros do diplomata Roberto Campos. Apesar de ser uma personalidade respeitada pela sua trajetória, em nenhum momento da graduação, tive contato com sua obra. Era sempre algo nebuloso, quase que caricatural a partir das aulas, mas nada concreto como discutir diretamente textos do renomado economista. A partir desta constatação cometi a "heresia" de adquirir o livro A Lanterna na Popa que tem muito me agradado na leitura, aliás, recomendo este livro aos meus poucos mas excelentes leitores.
Campos foi diplomata e teve vivência dentro de diversos governos brasileiros como JK, Jânio Quadros, o governo Castelo Branco, sendo bastante crítico ao desenvolvimentismo militarista ocorrido após o 1968, principalmente, o II PND de Geisel em meio a grande turbulência internacional. O autor conviveu com personalidades como Kennedy, Thatcher, foi parlamentar constituinte. Certamente a experiência que esta figura teve não pode e não deve de forma alguma ser desperdiçada.
É uma pena que algumas pessoas encaram a atividade intectual como um prolongamento da luta de classes de Karl Marx, a luta entre bons e maus, entre mocinhos e bandidos, e entre o que se deve discutir e o que está fora de discussão. Minha personalidade contestadora, me levou a adquirir o que apelidei ironicamente de "livro proibido", mas e aqueles que aceitam a lavagem cerebral e o discurso advindo dos mestres sem contestações? Daí a importância de se atiçar o verdadeiro espírito crítico, deixando claro que espírito crítico implica em diversidade e não em debates pré-definidos. Este é o desafio de parcela significativa da intectualidade brasileira que não se libertou do famoso livro do século XIX e da missão de "conscientização" de seus estudantes.

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