quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Conservadores e liberais no Brasil pós 64.

Muito se debate nos círculos universitários a respeito da propalada aliança Liberal-Conservadora, algo que no Brasil é difícil se verificar.
Provavelmente os comunas que adoram acusar essa eventual aliança pelos males do Brasil estejam com a cabeça nos EUA.
Os republicanos nos EUA de fato tem um discurso não intervencionista e conservador. Em relação ao conservadorismo, de fato os Republicanos são referência mundial o que mostra a religiosidade de grande parte do povo americano. Em relação ao liberalismo, de fato os Democratas são mais protecionistas, entretanto, no tocante ao gasto público os republicanos são muito mais flexíveis, o que tem gerado enormes déficits gêmeos. Austeridade e liberalismo da boca pra fora, mas evidentemente, estão longe de ser estatistas soviéticos, o que seria incompatível com a sociedade plural e de grande pujança econômica como os EUA.
Parte de nossos intelectuais acusam a tal aliança “Liberal-Conservadora” da revolução de 1964, tenho dificuldades em engolir tal versão. Admito que no mandato de Castelo Branco a dupla Campos/Bulhões procurou arrumar a casa na área econômica. De fato Roberto Campos foi um dos expoentes do liberalismo brasileiro, entretanto, nesse mandato tivemos a reforma do sistema financeiro com a criação da correção monetária, instituição do FGTS como poupança compulsória entre outras ações que não primam pelo liberalismo econômico. Evidentemente, quando deparamos o governo do general Castelo Branco com outros que estavam por vir, certamente ele foi o menos heterodoxo.
Acusar o homem forte de governos seguintes, o então ministro Delfim Neto, de liberalismo, se trata de pura ignorância. Controle de importações, política fiscal expansionista, controle de taxa de juros, são instrumentos bastante heterodoxos.
Certamente nossos militares eram anticomunistas, entretanto, isso jamais os colocaria como arautos do liberalismo e da economia de mercado. Sem dúvida alguma, foram bastante estatistas e certamente a “esquerda” tupiniquim tão crítica do tal neoliberalismo deveria admitir que liberais nossos generais não foram!
Bem, quem leu o texto até aqui acha que sou adepto do liberalismo Friedmaniano, mas não sou. Apenas quero ilustrar o equívoco bastante difundido por muitos.
Observando nosso processo histórico fica claro que na atual conjuntura não temos nenhum partido autenticamente conservador, não temos nada que sequer se aproxime disso, como é o caso dos Republicanos e também não temos nenhum partido Liberal, puro sangue.
Entretanto, com as reformas econômicas nos anos Collor e FHC, muitas no sentido pró-mercado com desestatização, abertura comercial, liberalização de capitais, há a impressão em que o país passou por um surto de liberalismo. Não tivemos governos de Chicago Boys, mas sem dúvida procurou se criar um ambiente de negócios mais favorável, em um país de cultura notadamente estatista. e anticapitalista.
Os liberais no Brasil, deixando bem claro que liberal não é necessariamente conservador e vice-versa, tem um discurso bastante pobre. Geralmente miram seus canhões apenas para a questão de aumento de servidores públicos, mas nunca para formas de modernização da máquina. E quando escrevo modernização, me refiro à despolitização de funções técnicas, o que significa quadro de pessoas qualificadas e isso implica sim gasto público. Chega a ser autista o discurso de que se paga quase 10% do PIB com pessoal, eu não sei qual o valor ideal, só sei que ao invés de se preocupar com esse número é dizer como poderia ser menor que isso, não que eu ache isso impossível, longe de mim, acho importante a redução radical de cargos comissionados e profissionalização de toda máquina pública, em linha com o que ocorre com algumas carreiras do funcionalismo atual. Esse discurso liberal desprovido de conteúdo é o mesmo que ir pregar ao deserto, está fadado a perder nas urnas.
Quanto a defesa dos valores de família, respeito e religiosidade, hoje não temos absolutamente nada que represente essa trincheira no país, diferentemente dos EUA conforme já exposto. E arrisco dizer que nossa cultura é essencialmenet conservadora, basta conversar com o povo e ver que grande parte quer punição rígida pra bandidagem, punição de menores infratores de forma exemplar, algo que a legislação atual não permite, muitos adeptos da pena de morte e a maioria absoluta é contra o aborto. Somos uma sociedade conservadora governada há décadas por “liberals” no sentido americano da palavra. Há um vácuo político e incrivelmente ninguém o ocupa.
Pobre política nacional.
Portanto, o discurso economicista cretino acabou, a inflação foi debelada, a economia está muito mais estável, os liberais ainda vão ficar falando apenas em economia? Sem dúvida a economia é importante, a pobreza no Brasil é enorme, mas a proposta liberal para isso se resume a corte de gastos públicos? A Economia resolve tudo?
O povo que ter maiores salários? Claro que quer! Mas também quer Educação, Saúde e sobretudo Segurança Pública! Qual a proposta liberal par ao transporte? Corte de gastos públicos? Entendem onde quero chegar?
Uma sociedade violenta como está a nossa com a desagregação familiar, com uma juventude de famílias desestruturadas e sem valores fortes, qual a solução? Descristianizar? Dar pílulas do dia seguinte à adolescentes? Isso é ser “liberal” o indivíduo resolve tudo, não precisa de instituições não precisa da família, da Igreja, de nada. Será que é mais importante debatermos a taxa de juros que isso se resolve?
A organização social transcende a questão econômica e uma sociedade com valores corrompidos não fica de pé. Na economia precisamos usar bem o dinheiro à disposição, nossa carga tributária é alta? Sem dúvida, desburocratizar é importante, mas isso soluciona nossa desestruturação familiar? Claro que não. Ai que ta
Conservadores Uni-vos.